História

Origem do nome

Existem duas versões a respeito da origem do nome São Sepé. A popular diz que o município recebeu esse nome em homenagem à memória do valente guerreiro Sepé Tiaraju que nasceu, viveu e combateu nos Sete Povos das Missões, na época pré-açoriana. Os missionários ensinavam que ganhariam o céu aqueles que tombassem em luta pela defesa das Reduções Cristãs contra os exploradores. Por esse motivo, segundo a tradição, o guerreiro morto passou a ser invocado como São Sepé, tornando-se assim símbolo do sentimento indígena de liberação. A marca desta santidade seria um sinal branco, em forma de cruz, no alto da testa – o lunar de Sepé – com que ingressou no imaginário popular.

 Segundo o historiador Aurélio Porto, no território do hoje município de São Sepé, havia uma taba de índios guaranis, da qual Tiaraju seria cacique, originando-se assim, a referência póstuma feita ao índio Sepé, de tanto simbolismo na memória popular.

A outra versão, é apresentada pelo historiador Paulo Xavier, embasado em documento historiador, fornecido pelo historiador Arnaldo Bruxel e na informação de Jose Saldanha, governador da Missões de 1803 a 1805. Afirma que São Sepé teve origem em uma estância missioneira já existente em 1751, chamada San Sepé e que o nome São Sepé que se atribuiu ao município não em relação direta com o índio Sepé Tiaraju. No entendimento de Xavier muito antes do surgimento de São Sepé – na História do Rio Grande do Sul, já existia junto às barrancas do Uruguai, um topônimo San Sepé.

Uma outra abordagem está presente entre pesquisadores e estudiosos das Missões e da sua abrangência e influência na região do atual município de São Sepé e de outros que lhe são próximos, diz respeito à presença do índio Sepé Tiaraju, enquanto personagem histórico real. Esta verdade histórica, incontestável, tem merecido atenção especial no intuito de resgatar o significado deste Sepé Tiaraju na cultura destas localidades.

São Gabriel e São Sepé são dois municípios que tem interesses históricos-culturais muito próximos à figura de Sepé Tiaraju. São Gabriel, porque guarda com justo orgulho o local onde teria ocorrido a morte do Guerreiro das Missões. São Sepé, porque um misto de lenda e verdade faz crer que o corpo de Tiaraju, depois de ferido mortalmente, teria sido enterrado em grutas da região, acreditando a memória popular tratar-se da Gruta do Marco, localizada em território Sepeense. Não se deve esquecer a crença popular de que a Pulquéria – aprazível recanto do rio São Sepé – teria sido apaixonada índia de um guerreiro índio que nessas lutas partiu para nunca mais voltar. As lágrimas de dor e saudade, de apaixonada e incontestável Pulquéria, deram origem às corredeiras e quedas de água que a homenageiam.

Talvez com análogo significado ao da verdade histórica fundamentada ou ao do imaginário mítico-folclórico popular, cresce o reconhecimento do valor e da importância de Sepé Tiaraju. Os movimentos sociais e as diferentes confissões religiosas, modernamente têm exaltado Sepé Tiaraju como figura ímpar, destacando-o no luminoso rol dos bem-aventurados, invocando-o e exaltando-o como mártir e santo popular da luta e da resistência da sofrida população latino americana.

Seja qual for a origem do nome do município de São Sepé, este nome, por si só, é legenda e orgulho, ultrapassando os limites da historicidade formal para situar-se no patamar da consagração popular definitiva.

Fundação e Formação 

A cidade de São Sepé – seu núcleo urbano atual – teve origem a partir da idéia-promessa de se construir uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição. Os moradores do distrito de São João, como era identificado o território do atual município, quiseram ter sua própria capela. Francisco Antonio de Vargas, morador de Formigueiro, liderou o movimento tomando a iniciativa. Havia, porém, fazendeiros que se opunham à construção da referida capela. O local escolhido para a edificação do templo foi o chamado “rodeio” da família Fraga, contraria a idéia. O lugar, a margem do Arroio São Sepé, entre este e o Vacacaí, era mais bonito da região.

Francisco Antonio de Vargas e seus companheiros obtiveram a licença concedida pelo Vigário Geral, cônego Antônio Vieria de Soledade, em 1829. A licença concedida destinava-se a erguer uma capela em honra de Nossa Senhora da Conceição.

Em 15 de fevereiro de 1830, parte de Formigueiro uma carreta transportando uma grande cruz de ipê e acompanhada por uns quarenta moradores, a cavalo, sob a liderança do carpinteiro Francisco Antônio de Vargas. Após cansativa jornada chegaram ao local escolhido. Mesmo contra a vontade de autoridades e fazendeiros, levantam a cruz com toda a solenidade e pompa. Em sinal de protesto à invasão da propriedade, os estancieiros do Rincão de São João, entre os quais a família Fraga, faz longa representação ao presidente da província, Caetano Mário Lopes Gama. Em conseqüência, Francisco Antônio de Vargas foi processado. Com sua morte, o processo foi encerrado. Mas, alguém deveria dar continuidade a iniciativa de Francisco Antonio de Vargas. A solução estava na aquisição das terras. Foi então que os Plácidos entraram na história: Plácido Nunes de Melo, o Chiquiti e Plácido Gonçalves Dias, homem rico e sem descendentes. Chiquiti conseguiu que o proprietário do terreno o vendesse a Plácido Gonçalves. Este o adquire da família Fraga, e, juntamente com sua esposa Maria Joaquina de Lima, doa-o para a construção da capela. Também faz doação de todos os terrenos necessários para as demais edificações iniciando-se assim e ali, a povoação que cresce rapidamente. Em 7 de setembro de 1850, pela Lei Provincial nº 201, esta povoação é elevada à Freguesia com o nome de Freguesia de São Sepé.

O município de São Sepé foi criado pela Lei provincial nº 1029, de 29 de abril de 1876, no governo do Conselheiro Alencar Araripe, Presidente da Província, com territórios dos Municípios de Cachoeira e Caçapava do Sul. Em 15 de fevereiro de 1877, realizaram-se eleições para a Câmara de Vereadores. O Município é instalado, solenemente, a 15 de março de 1877, pelo Presidente da Câmara de Vereadores da Vila de Caçapava, Pedro Antônio Medeiros.

A cidade de São Sepé, localiza-se na região central do Rio Grande do Sul, a 265 Km de Porto Alegre. Faz parte da microrregião geográfica de Santa Maria que compreende, além de São Sepé, os municípios de Cacequi, Dilermando de Aguiar, Itaara, Jaguari, Mata, Nova Esperança do Sul, Santa Maria, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, São Vicente do Sul, Toropi e Vila Nova do Sul.

De 15 de fevereiro de 1830, quando se ergueu a cruz, ao início do Terceiro Milênio (2002), são mais de 172 anos de uma história que orgulha os sepeenses de todos os tempos.

Primeiros povoadores

 Segundo Aurélio Porto, em artigo publicado na revista – São Sepé – Memória Comemorativa do Centenário da Fundação da Capela das Mercês, em 15 de fevereiro de 1830, à margem do Rio São Sepé – o território compreendido pelo atual município de São Sepé, situado entre o Jacuí, Vacacaí Grande, Santa Bárbara, Cambaí, Acampamento Velho e estrada do Boqueirão, teve seu povoamento inicial em fins de 1780. Até então, pela oscilação das fronteiras meridionais do país, em razão de Tratados que não eram cumpridos, não se fixavam povoadores. Em 1780, mesmo depois do Tratado de Santo Idelfonso, eram imprecisas as delimitações do território. Em 04 de agosto de 1780, cumprindo o referido Tratado, o coronel Patrício José Corrêa da Câmara, comandante da Fronteira do Rio Pardo, determinou que as terras a serem distribuídas ficariam dentro dos limites, isto é, da “guarda do Jacuí, do último Irapuá, até sua foz no Jacuí, e dos vertentes do mesmo Irapuá, a rumo direto até encontrar no Camaquã, e deste e da serra que costeia a Lagoa para a parte da Campanha”. Requeridas por vários outros povoadores que ficavam além desses locais, não haviam sido objeto de resolução, sendo as informações do capitão Antônio Gomes de Campos, primeiro comandante de Cachoeira, que fora considerada freguesia em 1779, que ditas terras estavam fora do território de concessões, julgado então “neutral”.

Naturalmente, não seriam conhecidos os limites traçados por esse Tratado, que davam para Portugal a posse dos territórios que ficavam nas cabeceiras dos rios que correm do Rio Grande e Jacuí em que estavam enquadradas. Em contraposição a essas ordens, mesmo em 1780, José Marcelino de Figueiredo, então Governador da Capitania, concede a José Carneiro da Fontoura uma sesmaria no Durasnal de São Rafael. Era o primeiro povoador que pisava o território de São Sepé. Filho de João Carneiro da Fontoura, primitivo povoador do Rio Grande, era natural de Minas, tendo nascido em 1733. Fronteiro destemido, expulsara da Tranqueira de Rio Pardo o arrogante Vertiz y Salcedo, à frente de uma indomável hoste de guerrilheiros audazes. Casara-se em Viamão com Dorothea Isabel da Silveira, tendo diversos filhos que foram troncos das famílias Saldanha, Pereira de Macedo, Assumpção, Barcellos, Simões Lopes e outras.

Santos Martins é outro pioneiro do povoamento de São Sepé. Grande latifundiário português, natural do Porto, filho de Manoel Pinto e Maria Martins, localizou-se em Cachoeira depois de ter servido como soldado nas guerras da Demarcação. Martins, porém, vende sua sesmaria ao tenente Luis Pinheiro da Silva, que é depois um dos primeiros povoadores de Santa Maria, o qual a repassa ao tenente Salvador Martins Pereira. Esse nascera em Cachoeira, sendo filho de Domingos Martins de Oliveira e sua mulher Clara Rodrigues de Oliveira, curitibanos, primitivos povoadores do local, já tinham em São Sepé outra sesmaria, cuja concessão legal obteve depois a 04 de novembro de 1781. Tais campos, ficavam entre o rio Santa Bárbara e o São Sepé, na Coxilha de São Rafael, confrontando ao norte com o São Sepé, ao sul com o Santa Bárbara, leste o Vacacaí e oeste Hypólito Dias.

Hypólito Dias de Souza, outro povoador, é filho de João de Souza Dias Cardoso, que depois de ter campos em Rio Pardo, torna-se sesmeiro das terras onde hoje se encontra a cidade de Cachoeira. A sesmaria de Hypólito Dias entesta com a de Salvador Martins, a leste, tendo por limite ao norte o São Sepé e ao sul a estrada real que confronta com o furriel João Pinheiro. Parece tê-la recebido por herança de João de Souza Dias, que em 4 de março de 1791, obtém confirmação de sesmaria povoada em São Sepé.

Nas proximidades desses campos, localizava-se José Anchieta Furtado de Mendonça, tronco de numerosa família sepeense. Suas terras ficavam entre o Santa Bárbara e o Durasnal de São Rafael, fazendo divisa com Luis Pinheiro (Salvador Martins), Raymundo da Silveira Santos e Alexandre Correa. José Anchieta era natural do Rio de Janeiro, filho de Antônio Furtado de Mendonça e Maria Cândida Velloso da Fontoura, irmã de José Carneiro. Teve vários filhos, entre os quais o sargento-mór José Anchieta da Fontoura, de quem descende o Dr. João Neves da Fontoura, renomado homem público, natural de Cachoeira.

Raymundo da Silveira Santos é também um dos primeiros que transpõe o Santa Bárbara, sendo mais tarde comandante do distrito de São Rafael. Nasceu no Rio Pardo, filho do capitão Antônio da Silveira Ávila e Matos, um dos fundadores daquela cidade. Casou-se com Innocência Maria de Bittencourt, sendo pai de João e Francisco da Silveira Santos, fazendeiros de São Sepé e de Clara Florinda que casou com o capitão Fidelis Nepomuceno de Carvalho Prates, velho patriarca do Rio Grande.

Joaquim Rodrigues Florence, povoador de Cachoeira e Domingos Adolpho Charão. É um dos fundadores de São Sepé, onde se encontra ainda a sua vasta descendência. Esses campos ficavam entre os arroios de São Rafael e de São Sepé, Passo do Lagoão, Francisco de Siqueira Cortês e dois arroios que entram em São Sepé, sendo ainda lindeiros com os de Rodrigues Florence. O sargento-mor Antônio Adolpho Charão, era natural do Rio Pardo, filho do tenente Antônio Adolpho Charão, natural do Rio de Janeiro e Joanna Velloso da Fontoura, irmão de José Carneiro. Casou-se Charão, com Anna Clara do Nascimento e depois com Pacífica Júlia da Fontoura. Do primeiro matrimônio teve vários filhos entre os quais o sargento-mor Antônio Adolpho, tronco dos Fontoura Freitas, Vasco, de que descendem os Chananecos. Maria Cândida, casada com João Carneiro da Fontoura Felisberto. E do segundo, Anna Amália, tronco dos Riquinhos, e outras famílias sepeenses.

Ignácio Rodrigues da Silva tinha fazenda de criação, nas alturas do São Rafael. Confrontava ao norte com o Vacacaí, sul e leste com o São Sepé e ao oeste com um banhado que separa o campo de Joaquim Ilha. Ainda, entre Santa Bárbara e São Sepé tem campos de criação Vicente Alves Coelho, Alexandre Corrêa, Francisco Machado da Silveira. Fica assim povoado o distrito de São Rafael. A penetração se fez, simultaneamente, além do São Sepé a entestar no Vacacaí Grande.

Formam-se enormes fazendas de criação entre as quais se sobressaía a de São João, nome originário do rincão. A de Tupanci, que provém de um banhado que tem suas nascentes em cerro da mesma designação. E, finalmente, o Formigueiro, outro rincão, que dá nome ao atual município de onde saem os quarenta pioneiros, que sob a liderança de Francisco Antônio de Vargas, vão plantar, à margem do São Sepé, a cruz símbolo de uma futura cidade sob a invocação de Nossa Senhora das Mercês.

Matheus Simões Pires, tronco dessa família no Rio Pardo, casado com Catharina Ignácia da Purificação, ambos ilhéus, e que deixa dois filhos, Vicência Joaquina de Almeida, casada com João de Souza Pimentel, rico sesmeiro de Cachoeira, e Antônio Simões Pires, cujos descendentes ainda hoje, vivem em São Sepé. Obtém uma sesmaria nas proximidades do rincão das Timbaúvas. Junto a Matheus Simões, Antônio Gonçalves Dias, que viera também de Cachoeira, estabelece a sua estância povoada de gados, entre Vacacaí e São Sepé. As sobras desses campos foram requeridas por Inocência Umbelina de Jesus, ficando dentro de seu campo o rincão das Timbaúvas.

Vem em seguida, Antônio Gonçalves Borges,  natural de Rio Pardo, casado com Joaquina Rosa, filha de João Pereira Fortes, sesmeiro do Capão Grande, em Cachoeira, e tronco de larga descendência, na qual se encontra o Dr. Borges de Medeiros. Gonçalves Borges se localiza no rincão de São Sepé, entre o Vacacaí Grande e o rincão das Vacas Gordas. Lindeiros a essa sesmaria, pelo sul, estão estabelecidos os irmãos José e Manoel Thomaz do Nascimento, no rincão das Vacas Gordas, entre o Vacacaí, São Sepé, arroio Tupanci e Antônio Gonçalves Borges.

Nesse rincão, campos de São João, proximidades da Taipa de Pedras, são concedidos várias sesmarias. Junto ao Tupanci, tendo pelo sul o São Sepé e a leste o rincão das Vacas Gordas, obtém terras dona Anna Fausta Gertrudes de Magalhães, conseguindo outra que lhe é limítrofe, sua irmã dona Thereza Antônia Gertrudes de Magalhães. Junto a essas, tem sua fazenda de criação de gado, o coronel Gaspar José de Matos Ferreira e Lucena, que foi comandante dos Dragões do Rio Pardo, ficando entre a Taipa de Pedras, um arroio que deságua no São Sepé e outro arroio que deságua no Vacacaí Grande. Imediata ficava a sesmaria do irmão do coronel Gaspar Lucena, José Joaquim de Matos Ferreira e Lucena.

Ainda, nos mesmos campos de São João, estão localizados em sesmarias que lhe haviam sido concedidas, os dois irmãos Manoel e José dos Santos Cardoso, que seriam futuramente signatários do protesto contra os fundadores da capela das Mercês. O primeiro tinha suas terras ao sul e a leste de São Sepé e a oeste um pântano grande que nasce do Cerro do Tupanci, e o segundo, junto a este, beirando o Vacacaí, no rincão das Vacas Gordas. São os proprietários da Estância de São Sepé.

Mariano José Teixeira tem campos entre o Arroio Canoinhas e um banhado que deságua no Vacacaí Grande, acima do passo de São Sepé e entre outras vertentes que correm par o Canoinhas. Joaquim Carlos de Bragança Fraga não é dos primeiros povoadores de São Sepé. Sua primeira sesmaria estava situada nas pontas do Camaquã Chico. Só mais tarde, antes porém de 1811, compra de um herdeiro da sesmaria de São João um légua de campo, entestando com o São Sepé. É nesse campo junto ao passo, que os chacreiros do Formigueiro levam a cruz da nova capela, sob veementes protestos de Joaquim Carlos.

Há outros dois Fragas que estanciam pelas imediações de São Sepé, João Oliveira de Araújo Fraga e Antônio Luís dos Reis Fraga, possivelmente irmãos do sesmeiro de São João. O mesmo se dá com Rodrigo José de Figueiredo Moreira, proprietário da estância de São João Novo, Cambaí. Boqueirão Baixo, e Emílio Manoel Moreira de Figueiredo, proprietário da estância de São João, que só mais tarde devem ter adquirido estas terras. Rodrigo José de Figueiredo Moreira, é tronco de grande descendência, disseminada por São Sepé e Cachoeira. Natural do Tijuco, Serro do Frio, Minas Gerais, filho de Luís José de Figueiredo e Dona Anna Perpétua Marcelina da Fonseca, também naturais de Minas , casou com Henriqueta Emília Moreira de Figueiredo, da mesma Capitania. Veio o casal para Rio Pardo onde viveu longos anos e onde nasceram vários filhos, entre os quais João de Figueiredo Moreira e Carlos de Figueiredo Moreira. Emílio Manoel deve ser cunhado de Rodrigo José.

Ao sul, entestando com as vertentes do São Sepé, Cambaí e vertentes do Camaquã estavam localizados ainda dentro do distrito vários estancieiros. Luís Machado Teixeira era o sesmeiro do campo das Árvores, entre galhos do São Sepé, tendo por divisas ao norte o Potreiro da Cria, ao sul a estrada que vai para Caçapava, ao leste arroio Passo da garrucha, que faz divisa com outra sesmaria do mesmo Luis Machado, denominado Cerca das Pedras.

Jerônimo Rodrigues da Rosa estava entre as vertentes do São Sepé e Vacacaí que ficava ao norte, e ao sul com vertentes de matos que deságuam no Vacacaí. José Joaquim de Bittencourt entre duas vertentes ou galhos do São Sepé e campos de José Mendes e Joaquim Severo, José Pinto e um galho do São Sepé. A sesmaria de José Mendes, tendo ido a hasta pública, foi arrematada por Francisco Antônio Gonçalves. Confrontava a leste com o galho principal do São Sepé, que divide a sesmaria de Joaquim José de Bittencourt, ao sul com Joaquim Severo Fialho de Mendonça, ao norte com uma vertente que corre para o  Cambahy e outra para o São Sepé.

São esses os primitivos povoadores de São Sepé, o núcleo constitutivo de sua riqueza territorial e os que definiram o seu perfil étnico original.

FRANCISCO ANTÔNIO DE VARGAS

Morador do Formigueiro, foi quem tomou a iniciativa de erigir uma capela dedicada a Nossa Senhora das Mercês, próxima ao Rio São Sepé.

Em 15 de fevereiro de 1830, um grupo de homens, sob a chefia de Vargas encaminha-se para o local indicado trazendo uma cruz numa carreta. Os proprietários do local escolhido, opõem-se a idéia dos moradores vizinhos. Vargas mostra a licença, ao que Ilidoro, um dos contrários à idéia, contesta dizendo que a mesma não preenchia todos os requisitos e que deveriam aguardar a decisão das autoridades. Vargas e os demais companheiros não se conformam iniciando uma discussão. Salvador Caetano, um dos que apoiam o grupo de Vargas, intervém, afirmando que teria direito de colocar a cruz. Ilidoro achou uma insubordinação e ordena a Manoel Joaquim Torres que prendesse tais homens. Os companheiros de Vargas afirmam que se os dois fossem presos, todos estariam presos. Logo após, plantam a cruz de Ipê numa verdejante colina. Vargas era o principal acusado, conseguindo responder o processo em liberdade, em virtude da “Carta Seguro ” fornecida pelo Imperador. Quatro anos mais tarde, o processo foi arquivado devido à morte de Vargas. Estava determinando o local da Capela de Nossa Senhora das Mercês, dando origem à vila, freguesia e, hoje, cidade de São Sepé.

Francisco Antônio de Vargas e companheiros são considerados seus fundadores e Nossa Senhora das Mercês, ainda hoje, na matriz, continua protegendo os sepeenses como sua padroeira.

PLÁCIDO GONÇALVES DIAS

Teve destaque na história da fundação do município. Fazendeiro abastado, proprietário das fazendas do Verde ( nas costas do Rio Vacacaí ), do Cerro e Timbaúva. Casou-se em Encruzilhada do Sul, em 04 de setembro de 1824, com sua prima Maria Joaquina de Lima, não deixando descendentes. Plácido era filho de José Gonçalves Dias e Maria Xavier de Freitas.

A idéia da doação do terreno para a formação da capela, surgiu em função de uma promessa feita quando seu irmão, residente em Encruzilhada, comete um crime naquele município, fugindo para pedir-lhe ajuda. Plácido o recebe e fornece-lhe dinheiro e cavalos, possibilitando sua fuga para São Paulo, já que temia perseguição por parte dos inimigos.

Tempos mais tarde, recebe carta do irmão informando que estava muito bem. Resolve, então, cumprir a promessa de erguer uma capela (doando o terreno) e adquirindo a imagem de Nossa Senhora das Mercês para a Padroeira. Esses intentos só foram possíveis graças aos esforços de seu grande amigo Plácido Do Nunes de Melo, o Chiquiti.

Plácido Gonçalves faleceu em 1834.

PLÁCIDO CHIQUITI

Foi incansável defensor da causa de Francisco Antônio de Vargas, e após a morte deste, continuou a luta para que os proprietários do local o vendesse a Plácido Gonçalves e que os opositores a oposição à construção da Capela desistissem da Campanha. Chiquiti percorreu todo o território tentando conseguir adeptos favorável ao projeto de Vargas. Foi preso por duas vezes e enviado a Porto Alegre por andar incomodando os vizinhos com seus argumentos. O presidente da Província não aprovou tais medidas tomadas pelas autoridades locais, mandando soltar Chiquiti e permitiu-lhe continuar a propaganda, enquanto permanecesse dentro da ordem da lei.

Os esforços de Chiquiti não foram em vão. Em 20 de fevereiro de 1834, foi lavrada a escritura que tornava Plácido Gonçalves, proprietário do terreno que tempos depois foi doado a Nossa Senhora das Mercês por ele próprio ou por sua viúva, Maria Joaquina de Lima. Em pouco tempo iniciou-se, assim, a construção de algumas casas, e em seguida, a do prédio destinado à Igreja em local próximo àquele em que fora colocado a cruz por Vargas.

Esta cruz deu origem ao núcleo urbano onde hoje situa-se a cidade de São Sepé.

CORONEL VASCO ANTÔNIO DA FONTOURA CHANANECO

Nasceu no Cerrito do Ouro, em 1824. Dedicava-se à agricultura e ao comércio ( em sua própria residência ) e as lides de carreteiro. Aos 30 anos, casou-se co Ana Guedes, que teve a filha Ana Maria, que se casou com Faustino Machado Pereira. A segunda união Chananeco foi com Joana Batista da Fontoura, nascida no Paraguai. Desse casamento nasceram Chananeco Antônio da Fontoura, educado no Rio de Janeiro pelo Imperador Dom Pedro II, tendo sido oficial de curso do Exército Nacional, Ricarda Braulia e Maria Dolores ( Marica ).

Destaca-se na Campanha do Paraguai. Dono de uma fisionomia e temperamento calmo, quando entrava em combate perdia logo a luz  da razão, levando seus companheiros  aos lances mais  temerários que se pode  imaginar. Não gostava de fuzilaria ,usava  espadas,As

Batalhas que  mais  marcaram sua  passagem  foram  Avaí e Lemas Valentinas , tendo  participado também das  batalhas de Curupaití, ,Tuiti ,Estero Rojas ou Umbu, bem  como  do célebre  ataque  á Vila do Pilar e no  reconhecimento e tomada  de Laureles. Foi notadamente    enaltecido por Caxias . Terminada a Guerra, voltou o valente chananeco para a sua  terra  natal , e também á profissão  de carreteiro. Morreu em 27 de  dezembro de 1876, pobre, de uma enfermidade contraída  ainda  no  Paraguai.

GUILHERME GERMANY

De origem alemã, foi voluntário na Guerra do Paraguai. Defensor da República e da Abolição. Após a luta voltou para São Sepé, onde casou-se com d. Leopoldina Kieling. Depois de Proclamada a República, Germany foi nomeado para  o cargo de Secretário do Município. Desentendeu-se com o Presidente do Conselho Municipal (correspondente hoje, à Câmara de Vereadores), o que fez com que ele se desgostasse e transferisse sua residência para a cidade de Cruz Alta.

São muito escassas as fontes ou informações sobre a sua vida. Embora várias pessoas tenham demonstrado interesse em mais dados sobre Germany, muito pouco existe à disposição.Talvez algum historiador, pesquisador mais credenciado ou descendente possa, num futuro próximo, oferecer mais informações e precisar mais dados. Como voluntário da Guerra do Paraguai, Guilherme Germany, sem favor, merece consideração e sua vida, se mais conhecida, poderia revelar outras facetas significativas desse sepeense, que a seu modo e a seu tempo, cumpriu com suas obrigações, servindo à Pátria através das causas em que acreditava.

 É dos raros descendentes germânicos que, nesta época e por estas bandas, integravam-se à numerosa descendência luso-açoriana, que principalmente de Minas Gerais, Rio de janeiro e São Paulo vieram povoar estas terras sul-rio-grandenses.

FRUTUOSO ANTÔNIO PONTES

Nasceu em São Sepé, por volta de 1829. Foi casado com Horácia Brum Pontes, com quem constituiu numerosa família e muitos dos seus descendentes integraram-se com destaque, até hoje, como em tempos passados, à comunidade sepeense, oferecendo sempre valiosa contribuição.

Esteve na Guerra do Paraguai tendo servido sob o comando de Vasco Antônio da Fontoura Chananeco. Exerceu os cargos de Intendente Municipal e Delegado de Polícia de São Sepé, merecendo o respeito e a admiração de seus conterrâneos pelo equilíbrio de suas posições, mesmo em situações, as mais adversas. A história de sua biografia registra o esforço, a atenção, o denodo e a coragem com que se houve durante os episódios que marcaram a Revolução de 1893. A Frutuoso Antônio Pontes se devem a estratégia e os procedimentos que garantiram a segurança das famílias sepeenses no decorrer daqueles episódios revolucionários e onde, São Sepé, através de alguns de seus filhos marcou corajosa e brava posição.

Frutuoso Antônio Pontes, faleceu em 1905.

CORONEL VERÍSSIMO

Manoel Veríssimo Simões Pires nasceu em 1º de outubro de 1835, na Estância do Boqueirão e faleceu aos 72 anos, em 04 de julho de 1907. Filho do Capitão de Dragões Joaquim Simões Pires e Dona Zeferina Gonçalves Pires. Maior fortuna pastoril do município: Fazendas do Verde, Tupanci, Tapera, Marco e Boqueirão das Rosas.

Espírito empreendedor e progressista. Chefe do Partido Liberal no município, na época da Monarquia. Participou da revolução de 1893, incorporando-se às Forças da Guarda Nacional. Casou-se em São Sepé, em 23 de junho de 1858, com Maria do Carmo Ferreira de Castro. Espírito político sempre tendente pelas formas de governos liberais – aceitou a Proclamação da República. Entretanto, afastou-se do partido por discordar de Silveira Martins – parlamentarista – enquanto ele, Veríssimo, apoiava a forma presidencialista. Temperamento combativo, não concordou com pontos da carta de 14 de julho, promulgada por Júlio de Castilhos, tornando-se dissidente, ao lado de João de Barros Cassal, Antão Farias (sepeense) e outros. Participou do Movimento Revolucionário de 1893, contrário à Revolução. Seu amigo, Barros Cassal (mais veemente agitador do episódio revolucionário), o influenciou fazendo-o pegar em armas contra o governo de Júlio de Castilhos. Veríssimo organizou força de 600 homens no município e encorajou-os sob o comando do General Marcelino Pina, seguindo para Bagé. Devido aos excessos ocorridos no combate do Rio Negro, o Cel. Veríssimo, contrário à violência, sentiu seu espírito abalado e dominado por uma profunda tristeza, resolvendo assim abandonar a revolução.

Retirou-se para casa acompanhado de seus filhos, genros e amigos. Apoiou o Capitão Emídio Jaime de Figueiredo, na disputa com Lauro Bulcão, pela Intendência Municipal, ocasião em que se sagrou vencedor o primeiro, comprovando o prestígio de Veríssimo. Dono de um grande poder de persuasão, convencia facilmente os cidadãos sepeenses e os que tinham o primeiro de ouvir suas renovações.

MAJOR VICENTE DE PAULA SIMÕES PIRES

Foi o primeiro Prefeito Municipal (1877-81). Veterano das Guerras Cisplatinas, até a batalha do Passo do Rosário, perto de Rosário do Sul, em 20 de fevereiro de 1827. Participou depois, da Guerra contra Rosas, na Argentina, em 1852. Estudou medicina no Rio de Janeiro, interrompendo no 5º ano. Sem ter concluído o curso, voltou para o Rio Grande do Sul a chamado de seu pai, o sargento-mor Antônio Simões Pires, e chegou a clinicar aqui. Como prefeito (eleito pela Câmara de Vereadores), Vicente de Paula implantou o arruamento básico e central de São Sepé, obedecendo à orientação Norte –Sul e Leste-Oeste.

Em seu governo, graças à presença do sepeense Antão Faria na administração federal, conseguiu muitos benefícios para o município, como a abertura em plena mata, da Picada Grande, reduto dos Scherer, ficando assim, a cidade de São Sepé ligada à estação ferroviária de Restinga Sêca, em trecho de 50 Km, transformando-se na rodovia de maior tráfego no município, até a década de 1930-40.

CAPITÃO ELAUTÉRIO JOSÉ GONÇALVES

Nasceu em 1º de novembro de 1846. Natural de São Sepé, filho de Francisco José Gonçalves e Maria Florisbela Gonçalves. Pessoa muito calma a ponderada. Aos 32 anos, casou-se com Amália Brum. Apresentou-se para o serviço militar no dia 1º de novembro de 1864, tornando-se praça no 14º Corpo Provisório de Cavalaria da Guarda Nacional, sob o comando de José Mena Barreto.

Iniciou sua vida militar destacado no Pirahy, tendo participado depois da defesa da cidade de Uruguaiana, já como furriel. Seguiu para Curusu, onde participou na tomada do Forte, no combate de Curupaity. Mereceu promoção à 1º Sargento, em 22 de junho de 18666. Participou do combate de 03 de novembro, no Tuiuty, onde foi ferido. Na batalha de Arahy, foi novamente ferido. Participou ainda dos combates de Lomas Valentinas, Ascurras e Cabanas dos Altos. Em 06 de dezembro de 1868, marchou para Vitelina, sendo promovido a Sargento Ajudante. Em 20 de janeiro de 1869, foi promovido ao posto de Alferes, recebendo medalhas pelos anos que serviu nas operações contra o governo paraguaio. Logo após, foi promovido ap posto de Capitão. Terminada a Guerra, Elautério retornou a sua terra nata, quando foi nomeado pelo Governo Provincial, “Comandante da Seção Policial de São Sepé”. Em 1876, foi eleito Juiz de Paz da comunidade.

Em 18882, foi-lhe atribuído o comando de um grupo organizado com a finalidade de combater criminosos que operavam na Província. Personalidade destaque, em 1885, elegeu-se vereador da Câmara Municipal. Nomeado Delegado de Polícia do município, em 1889. Lutou na Revolução Federalista de 1893, onde veio a falecer em 22 de dezembro de 1893.

CAPITÃO EMÍDIO JAIME DE FIGUEIREDO

Nasceu em 1849. Morreu em 21 de dezembro de 1901. Com apenas 15 anos, em 26 de junho de 1864, incorpora-se aos bravos que daqui partiram para a Guerra do Paraguai, sob o comando de Vasco Antônio de Fontoura Chananeco. Recebeu promoção a Tenente após o combate de 24 de maio, sendo também agraciado como diploma de Cavaleiro da Ordem das Rosas, por ato de Bravura e merecimento. Novamente agraciado com o diploma de Cavaleiro da Ordem de Cristo, por Decreto de 06 de setembro de 1870.

Prestou, também, relevantes serviços nos combates das Cordilheiras em 06 de agosto de 1870. Por Decreto n.º 4560, firmado pelo Barão da Gávea, foi agraciado com Medalha Geral da Campanha do Paraguai, contendo o n.º 5, indicativo do tempo que serviu. Pelo Decreto 5158, de 04 de dezembro de 1872, foi considerado, por Carta firmada pelo imperador D. Pedro II, Capitão do Exercito em atenção aos relevantes serviços prestados durante os anos que serviu na guerra.

Após a Proclamação da República, foi nomeado Delegado de Policia do município e, mais tarde, eleito Primeiro Intendente de São Sepé, em um pleito onde concorreu com o Cel. Lauro Brum. A frente do executivo destacou-se pelo trabalho, merecendo sempre a admiração de seus conterrâneos após o término do mandato.

ANTÃO GONÇALVES DE FARIA

Nasceu em 17 de janeiro de 1854, na então Vila de São Sepé. Faleceu pobre, em Porto Alegre, e, 04 de fevereiro de 1936. Filho de Matheus Gonçalves de Faria e Umbelina Maria do Carmo Gonçalves de Faria. Estudou no Colégio Gomes, em Porto Alegre e Colégio Marinho, no Rio de Janeiro.

Ingressou na escola Naval, na antiga Capital Federal. Quando aspirante, abandonou a carreira e matriculou-se direto no 3º ano da conceituada Escola Centra do Brasil, no Rio de Janeiro, onde se graduou em Engenharia Civil, em 1877. Exerceu por pouco tempo a sua profissão aqui, transferindo-se para Caçapava, recém-casado com a sepeense Januária Magalhães de Faria.

Ocupou o cargo de “Superintendente das Obras Públicas” (equivalente hoje a secretário de obras Públicas), no governo do Marechal José Antonio Correa da Câmara, Visconde de Pelotas. Menos de três meses depois de sua posse na vida pública, o Visconde de Pelotas renunciou ao posto de dirigente do Estado, sendo substituído pelo General Júlio Falcão da Fronta. Concomitantemente, o novo chefe nomeou 1º e 2º Vice Governadores do Estado, respectivamente, Júlio de Castilhos e Antão de Faria.

Em 15 de setembro de 1891, foi eleito Deputado da Primeira Constituinte Nacional, pelo Rio Grande do Sul, especificamente pelo 6º Círculo Eleitoral, formado pelos municípios de São Sepé, Caçapava e Cachoeira. No Congresso, presidiu a Comissão de Viação e Obras Públicas.

Em 23 de novembro de 1891 foi nomeado, pelo então Presidente Marechal Floriano Peixoto, para o Ministério da Agricultura e Viação, onde permaneceu até 22 de junho de 1892, (tendo assumido, eventualmente, o Ministério da Fazenda por mais de uma vez). Retornou depois ao Rio Grande, onde se dedicou a sua profissão. Antão de Faria aderiu ao movimento Federalista que aconteceu no Estado em 1893, com o objetivo de depor o governo estadual sob o comando de Julio de Castilhos. Foi perseguido pelos senhores da Situação, motivo que o levou a exilar-se na Argentina, transferindo-se para Buenos Aires com a esposa, de onde voltou em 1884, desistindo assim da vida Pública, bastante desiludido da política.

Ainda na sua biografia, consta ter sido um dos fundadores de “A Federação”, em 1884, por voz do Partido Republicano Riograndense (PRR). Em 21 de outubro do mesmo ano, lançou na Capital “O Rio Grande”, folha diária e eminentemente política, sendo um jornalista atuante na história do Estado.

Em 1891-2, mandou construir o novo ramal telegráfico, ligando Caçapava e São Sepé com as localidades de Canguçu e Pelotas, ficando, o município integrado à rede nacional de telégrafos, único meio de telecomunicações na época. Foi ele, também, quem mandou figurar São Sepé no primeiro mapa nacional do Brasil, editado pelo Ministério de Aviação, em 1891, quando era Ministro do Governo Federal.

TIO LAUTÉRIO

“E puxando o barbicacho, pondo o chapéu para a nuca como quem sente a mutuca levantou-se o Tio Lautério, mulato velho mui-sério, cria de Dona Maruca.”

(Antônio Chimango – Sátira política – livro de Amaro Juvenal/ Pseudônimo Barcelos).

Tio Lautério nasceu a 02 de junho de 1854, sendo Batizado a 27 de julho de 1855, na freguesia de São Sepé (livro I, do Batismo de Escravos). Filho de Felicidade, escrava de Mateus José Ferreira de Faria, quatro anos antes da Lei Áurea foi-lhe dada Carta de alforria. Tio Lautério está enterrado em Campos do Sítio (        Sesmaria do Boqueirão). Ramiro Barcelos, ao imortalizar Antônio Chimango através da literatura gaúcha, trouxe consigo este personagem sepeense que é o Tio Lautério, cria de Dona Maruca (Maria Joaquina Pires Borges, esposa do Capitão Afonso Faria).

Tio Lautério teve por escola a natureza, fez-se tropeiro e conheceu Pelotas, a capital do charque, onde foi um dia, todo gaúcho, repontando tropas no mais “macho dos ofícios”, no dizer de Ricardo Guiraldes, e aprendeu que a própria natureza cura as mágoas naquela áspera profissão de ronda e reponte. Habituou-se a domar cavalos e gentes. Nas bodegas e carreiras, aos tragos de cana ou nos bailes de caroço, sempre aparecia algum “taita” metido a não respeitar os homens e que tinha de ser “exemprado”. Aprendeu de tudo, viu de tudo.         Nasceu com o país ameaçado da invasão paraguaia, para onde partiu o esquadrão “64” e no qual formaram o capitão Afonso Leonel de Brum, o cel. Veríssimo S. Pires (do Boqueirão), Albano Nunes Mello e outros, muitos outros sepeenses. Todos queriam seguir com chapeirão de voluntários, aba quebrada a frente, a vingar o desaforo. Vieram tempos terríveis, depois, depois, em 93, quer para os que estavam nas fileiras, quer para os que ficaram na solidão das casas de exposta campanha verde.

Tio Lautério ia envelhecendo. Novidade nenhuma causava-lhe admiração, como quando piá que pousava nos rasos, no costado da carreta. Viu chegarem os primeiros fios de arame que atavam a selvagem liberdade pampeana. Tira-se a prova do fato de seu passado de quase cem anos entre a mesma gente, morrendo entre eles, tendo conhecido cinco gerações desde Mateus Faria e Umbelina Gonçalves de Freitas. Embora não tenha nascido patrão, filósofo de bombachas, fez-se respeitado de todos.

Tio Lautério, à força de viver muito, ficou sabendo que grandes e pequenos, todos tem seu senhor em Deus. Sentia a verdade do ser supremo. Lera no livro aberto que lhe ministrava a constante lição de casa. Por isso, daquela feita que o amigo Dr. Ramiro perguntara-lhe se sentia prova da existência de Deus, o mulato velho serviu-se de uma página da natureza, a cartilha em cores dos que não foram a escola: – Ora, patrão: ontem a lua era cheia, hoje está minguando. Quem é que parte ela?

A longa existência dera-lhe astúcia de zorro. Bom laçador, errava o laço nos animais pesados, ultimamente, alegando a idade. Mas, quando traziam a vaca para carnear, ele atirava certeiro a corda nas aspas esquecendo de que era velho.

Em São Leopoldo – RS – foi criado o Centro de Tradições Gaúchas Tio Lautério, em homenagem ao gaiteiro e contador das Rondas, do poema de Ramiro Barcelos.

É seu neto, o militar conceituado e músico de talento, Antonio Setembrino Corrêa dos Santos (Mestre Bino), major da Brigada Militar que serviu em diversos municípios gaúchos e é autor de inúmeras composições em festivais de música nativista, popular e carnavalesca. Bacharel em música pela Universidade Federal de Santa Maria, é autor, também de mais de uma dezena de hinos de municípios do Rio Grande do Sul.

MONSENHOR MÁRIO DELUY

Nasceu em 02 de fevereiro de 1860, em Marselha, França. Filho de Henrique Deluy e Maria Glanier Deluy.

Estudou desde os 7 anos de idade no célere colégio francês Liceu Marselhês. Concluiu o curso secundário no final dos anos 80. Após esse período o jovem francês partiu para o Brasil, dirigindo-se ao Rio Grande do Sul, ingressando no Seminário Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo. Em 05 de abril de 1891, recebeu as ordens sacras do Bispo Dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão, na Catedral de Porto Alegre. No dia 6 de abril de 1891 celebrou sua primeira missa na Capela Nossa Senhora do Carmo, na capital gaúcha.

Foi nomeado secretário de Dom Cláudio, acompanhando-o nas viagens ao interior do Estado, onde em Pelotas, certa feita, foi atingido, inesperadamente, por umas pedras arremessadas na ocasião, contra a seu superior, por um grupo de elementos chamados de anticlericais. Em conseqüência disso, ficou tremulo e ligeiramente corcunda para o resto da vida.

Foi pároco das paróquias de Santa Cristina do Pinhal, São Francisco de Paula, Taquara do Mundo Novo (atual Taquara), Vacaria e, finalmente São Sepé. Chega a São Sepé, em 12 de junho de 1903, vindo de Vacaria, a cavalo. Em 15 de julho, toma posse. Em 24 de setembro de 1905, funda a Associação de Nossa Senhora das Mercês, com o propósito de propagar o culto da Mãe de Deus. Fundador, juntamente com o Dr. Pasqual D’ Agostini, da Santa Casa, inaugurada em 13 de julho de 1908, destinada a prestar serviços a população, principalmente aos mais carentes. Em 17 de outubro de 1908, funda o Apostolado da Oração. Em 1909, lança o boletim mensal, “Mensageiro da Caridade”, com o objetivo de divulgar o movimento paroquial. Em 07 de janeiro de 1910, fundou o Colégio Paroquial Nossa Senhora das Mercês, que tinha o propósito de “aformosar a alma pela a educação religiosa, o espírito pela cultura intelectual e a fazer do aluno o cidadão digno da Pátria Brasileira”. Quando chegou a São Sepé, o Pe. Mário encontrou uma igreja muito pobre. Em 11 de novembro de 1912, esse templo foi demolido.

A comissão encarregada do trabalho de construção da nova Igreja era chefiada pelo engenheiro sepeense Antão Gonçalves de Faria. A Igreja nova foi inaugurada em 19 de março de 1916. Em 08 de julho de 1915, Pe. Mário fundou o Pão dos Pobres de Santa Isabel, entidade destinada a auxiliar as pessoas necessitadas do local. Foi eleito, consecutivamente, Conselheiro Municipal (hoje, vereador) pelo Partido Republicano Riograndense. Dirigiu o ensino público municipal, sem receber qualquer remuneração pelo seu trabalho. Ajudou o Intendente Provisório, Sr. Manoel Duarte a pacificar o município (rivalidade existente entre os adeptos de Borges de Medeiros e de Assis Brasil).

Fundou o Jornal “A Vida”, dedicado ao registro dos assuntos de interesse da Paróquia em 1918. No mesmo ano, ergueu no então Distrito de Formigueiro, a Capela Nossa Senhora do Rosário. Em 28 de dezembro de 1921, participa da fundação da Conferência da Sociedade de São Vicente de Paula. Em 18 de abril de 1925, concretizou o sonho da União de Moços Católicos (em ato solene, presidido pelo Bispo Diocesano de Santa Maria). Também nesse ano, construiu a Capela de São José, no Distrito do Cerrito do Ouro.

Em 15 de fevereiro de 1930, por iniciativa do Pe. Mário, foi inaugurado na Praça das Mercês, o monumento, ainda existente, que recorda a fundação da cidade por Francisco Antônio de Vargas e seus liderados, quando da comemoração do centenário. Ainda na data, lançou a “Revista do Centenário de São Sepé”. Em 21 de janeiro de 1930, inaugurou a Capela São João Batista, no então Distrito de Formigueiro. Completou 30 anos de sacerdócio em São Sepé. A data foi muito comemorada pela população. Foi o pioneiro da idéia de fundação do Hospital Santo Antônio. Em 1934, recebe o título de Monsenhor. Ainda nesse ano inaugurou a Capela de São Vicente, no então 3º do município, e antes, a Capela Sagrado Coração de Jesus, na Colônia da Aroeira, em Formigueiro.

Em 14 de julho de 1935, deixou São Sepé seguindo para Cachoeira do Sul. Sofreu muito com a mudança. Sentia falta de seu “cantinho” (como chamava São Sepé). As autoridades diocesanas, não podendo trazê-lo de volta para São Sepé, o removem para Santa Maria, o que lhe permitiu ficar mais perto de sua antiga paróquia. Ao sair de Cachoeira do Sul, foi muito homenageado pela comunidade daquele município. Em 15 de janeiro de 1938, foi nomeado por Portaria do Bispo Diocesano, “Defensor Vinculi” nos processos de declarações de nulidade de casamentos. Em 03 de abril de 1941, transcorreu o seu jubileu de ouro sacerdotal, tendo sido na ocasião distinguido com várias demonstrações de apreço pela população católica de Santa Maria.

Faleceu a 22 de outubro de 1947, no Hospital Dr. Astrogildo de Azevedo, em Santa Maria, aos 87 anos.

GENERAL JOÃO LUIZ PIRES DE MORAIS CASTRO

Nasceu no município de São Sepé, na antiga fazenda do boqueirão das Rosas. Ingressou como praça em 21 de agosto de 1878, iniciando a vida de oficial em fevereiro de 1883. Membro da comissão de Engenharia Militar do Estado.

Na Revolução de 1893 foi o encarregado da execução do plano de defesa da cidade de Pelotas. Instrutor de tiro da cidade de Rio Pardo, professor da escola Militar de Porto Alegre, chefe do Estado Maior do 3º Distrito Militar, com sede em Pernambuco, e chefe da 3ª Brigada estratégia. Comandou também, a 2ª de cavalaria como comandante do 9º Regimento de Cavalaria. Participou ativamente no movimento de 15 de novembro. Em sua formação consta Bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

É outro dos tantos que orgulharam sua geração não apenas pelas multifacetadas atividades que exerceu, mas principalmente pela qualidade que emprestou as suas ações. Moraes Castro, ao lado de outros sepeenses, forma uma galeria de destaque na história brasileira, atestando o quanto este “cantinho” de Pátria (São Sepé), como o chamou Monsenhor Mário Deluy, contribui, com seus filhos – capacidade, inteligência, dedicação, luta e a própria vida – para delimitar seus contornos geográficos ou seu perfil moral, histórico, cultural e cívico.

EMILIANO BRUM PEREIRA

Nasceu em São Sepé, em 14 de agosto de 1862. era filho de Clementino de Souza Pereira e de D. Cezária Brum Pereira. Casou-se no ano de 1891 com D. Ernestina Brum, tendo duas filhas: Dulce Brum Pereira e Zilda Brum Pontes. Há muitos de seus descendentes ainda hoje em São Sepé.

Conservou-se sempre defensor dos ideais republicanos, onde ocupou importantes cargos de confiança pública, pela sua capacidade e pela dedicação incansável. De 1902 a 1908 ocupou o cargo de Intendente Municipal. Sua primeira posição foi de Vice-Intendente. Foi Juiz Distrital, Conselheiro Municipal e faz parte da comissão executiva do Partido Republicano, destacando-se na militância e na organização partidária.

Graças a sua visão de futuro e ao amor com que se dedica a atividade de pecuarista, foi um dos mais credenciados incentivadores de melhoria dos rebanhos no município.

Preocupado com a genética e sanidade dos rebanhos, registra sua propriedade – Fazenda do Capão da Cruz – no Ministério da Agricultura, servindo de exemplo e modelo, caracterizando, também, pioneirismo e preocupação com o futuro da atividade agropecuária.

Atento e estudioso pecuarista, introduziu em sua propriedade os rebanhos de raça Zebu, antecipando-se a melhoria e qualidade tão incentivados modernamente.

Faleceu em 26 de julho de 1933.

ANTÔNIO AUGUSTO SIMÕES PIRES

Natural do município, da tradicional família Simões Pires. Nasceu em 18 de outubro de 1867. Casou-se em 1891, com sua parenta Águeda Francelina Pires Borges. Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, no Largo de São Francisco, como outros de sua geração que tinham condições financeiras para se deslocarem aos grandes centros urbanos e universitários da época. Retorna ao Rio Grande do Sul. No governo de Júlio de Castilhos, foi nomeado Promotor Público da Comarca de São Sebastião do Caí, exercendo o cargo por pouco tempo.

Após esta carreira no Ministério Público abre escritório de advocacia na capital do Estado, juntamente com o Dr. Thimóteo Pereira da Rosa. Anos mais tarde retorna a São Sepé, onde faz parte da Comissão Executiva do Partido Republicano, destacando-se na comunidade e sendo eleito Intendente Municipal. Cumpridas as obrigações de Intendente Municipal em São Sepé, volta ao exercício da advocacia, uma de suas maiores paixões e onde alcançou merecido destaque.

Anos mais tarde, transfere residência para Santa Maria, continuando a exercer a profissão de advogado. A morte o surpreendeu, em Porto Alegre, no dia 28 de outubro de 1944, dez dias após completar 77 anos.

PERCIVAL BRENNER

Nasceu em 15 de fevereiro de 1872, em Santa Maria. Filho de Carlos Brenner e Cristina Hofmeister Brenner (o casal teve 12 filhos). Percival Brenner casa-se, em São Sepé, em 26 de novembro de 1895, com Josefina Simões Pires. Da união nasceram: Cícero Pires Brenner (faleceu com 73 anos); Odilon Pires Brenner (faleceu aos 73 anos); Carlos Pires Brenner (faleceu aos 73 anos); Moises e Alice Pires Brenner (falecidos ainda crianças).

Proprietário da fazenda São Veríssimo, (lindeiro com o Rio Vacacaí) e da fazenda Santo Antônio, (perto do Boqueirão). Morou até os 70 anos no meio rural. Militante político do Partido Libertador, foi eleito Prefeito de São Sepé, para o período de 1º de janeiro de 1925 a 1º de janeiro de 1929.

Dentre de seus descendentes, alguns também se dedicaram à política, como seus netos Túlio Faria Brenner, prefeito dom município em duas oportunidades e Tales Faria Brenner, major aviador, cassado pela Revolução de 64 e que dá nome ao aeroporto do município. Ambos eram filhos de Cícero Brenner, dentista admirado em São Sepé pela sua competência e altruísmo.

MARECHAL IDELFONSO PIRES DE MORAIS CASTRO

Nasceu na Estância do Boqueirão das Rosas, em São Sepé. Filho de João Pacheco M. de Castro e de Dona Rita Pires de Castro. Formado em Engenharia Militar. Iniciou sua vida militar em 24 de setembro de 1877, passando a oficial em 04 de março de 1882. progrediu rapidamente na carreira militar. Serviu nas Guarnições de Rio Grande, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Serviu, também, como membro da comissão de Engenharia Militar de Estado.

Ocupou, igualmente, o cargo de Diretor da Invernada de Saycan. Foi chefe do Estado Maior da Região, sendo também comandante da 6ª Brigada de Infantaria. Comandou, interinamente, a Região Militar, sediada em São Paulo, no posto de General de Divisão. Participou com destaque, do movimento militar que continuou com a Proclamação da República. É um dos mais destacados sepeenses dos tantos que seguiram carreira militar.

Faleceu em São Paulo, aos 29 de janeiro de 1922.

AFONSO AURÉLIO PORTO

Nasceu no interior do atual município de São Sepé, – à época pertencente à Cachoeira do Sul, – em 25 de janeiro de 1879. faleceu em 10 de setembro de 1945, no Rio de Janeiro. Filho de Júlio Gomes Porto e Aurélia Guedes da Luz Porto. Em uma de suas publicações, declarou ser São Sepé seu “berço amantíssimo” e o povo deste lugar seus conterrâneos. Estudou em Cachoeira do Sul, Santa Maria e Porto Alegre. Diretor de “O Progresso”, de Rosário do Sul, em 1899. Professor em Quaraí, no período de 1900 a 1905 e redator, naquele município, de “A Fronteira”. Redator de “Rio Grande”, em Cachoeira do Sul, em 1904. Professor do Colégio Elementar, em Santa Maria, em 1910, onde também foi redator de “O Estado”.

Intendente do município de Garibalde de 1910 a 1917. Funcionário do Museu do Estado do RS, redator de “A Federação”, ambos em Porto Alegre. Fundador e diretor da “Revista do Imposto Único”, também na capital, de 1920 a 1921. Intendente do município de Montenegro. No Rio de Janeiro foi redator dos “Anais do Itamarati”, “ A Pátria” e o “ Combate”. Historiador, pesquisador, romancista, poeta e teatrólogo. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1920. membro da Academia Riograndense de Letras, do Instituto Riograndense de Estudos Genealógicos e da Academia Nacional de História, com sede no Rio de Janeiro.

Na imprensa usou os pseudônimos de João de Ega, Melek, o Moleque, Elesbão o Ferrão e Zé Tarro onde expressa com rigor seu rico e múltiplo talento, fazendo-se respeitar pela credibilidade de suas informações e pesquisas. É autor de vasta e apreciada bibliografia e um dos mais credenciados historiadores das Missões. Em 1930, escreveu “São Sepé”: Memória Comemorativa da Fundação da Capela das Mercês”, dando sua contribuição, como sepeense, ao registro do feito histórico – levantamento da cruz – que deu origem a hoje cidade de São Sepé.

Faleceu, no Rio de Janeiro, aos 10 de setembro de 1945.

INNOCÊNCIO BORGES DA ROSA

Nasceu em São Sepé, em 1883. filho do médico Ramão Lopes da Rosa e de Dona Inocência Borges da Rosa. Formou-se Bacharel em Ciências e Letras, em dezembro de 1901, pelo Ginásio Nossa Senhora da Conceição, de São Leopoldo, equiparado ao Ginásio Nacional, Pedro II. Mais tarde, em 1907, tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito de Porto Alegre.

Exerceu o cargo de Promotor Público da Comarca de Passo Fundo, de 08 de janeiro de 1908 a 27 de dezembro de 1910. em 26 de dezembro de 1910, foi aprovado em primeiro lugar, em concurso, para Juiz da Comarca, pelo Superior Tribunal do Estado. Desempenhou as funções de Juiz da Comarca em São Vicente, de 31 de dezembro de 1910 a 21 de novembro de 1911; em Lageado de 29 de novembro de 1911 a 12 de outubro de 1912; em Taquari, de 21 de outubro de 1912 a 04 de setembro de 1916; em São Sebastão do Caí, de 12 de setembro de 1917 a 25 de outubro de 1928. Promovido a Juiz da Comarca da 3ª Vara de Porto Alegre, em 24 de dezembro de 1928. em outubro de 1922 publicou sua obra de Direito: “Manual de Teoria e Prática do Processo Penal”, em três volumes que alcançou sucesso de crítica e dos estudiosos e operadores das Ciências Jurídicas.

CLEMENCIANO BARNASQUE

Nasceu em São Sepé, em 23 de fevereiro de 1891, na localidade denominada Ipê. Filho de Inocêncio Barnasque e Clarice Brum Barnasque. Desde tenra idade, já demonstrava acentuada vocação para as letras, em especial para a poesia. Iniciou seus estudos secundários na extinta Escola Militar de Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Medicina até o 2º ano.

De regresso ao sul, ocupou-se com as letras e o jornalismo. Publicava suas quadrinhas na imprensa local. Posteriormente, suas poesias saíram das fronteiras do Rio Grande. Em 1911, era proprietário do jornal “O Sul”, que circulava em São Sepé. Escreveu “Mancha Pampeana”, “No Pago”, e “Efemérides Riograndenses”. Membro da Academia Sul Riograndense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Destacou-se na imprensa da capital. Historiador, tudo era motivo de inspiração para escrever.

Casou-se com uma moça de Carazinho, que conheceu durante uma de suas viagens. Da união nasceu seu único filho, também poeta, que veio a falecer com 21 anos, vítima de uma infecção generalizada. Carregava sempre um caderno no bolso, o qual utilizava parra escrever seus poemas, acrósticos e anotações a respeito dos locais por onde passava. Extremamente inteligente, sempre teve destaque nos meios culturais e jornalísticos da época. Nunca perdeu a simplicidade e manifestava sempre seu orgulho em ser sepeense.

DIOLOFAU BRUM

Nasceu em São Sepé, a 02 de novembro de 1894. filho de Lauro Brum, Intendente e Delegado de Polícia no município durante alguns anos, e de Maria José Câmara (Zezé) fisicamente era baixinho, robusto, cabelos pretos e ondeados. Falava muito baixo. Delicado e tímido, pouco conversava com pessoas que não fossem de seu círculo de amizades.

Autodidata. Cursou os légios particulares locais. Apaixonado pela música e pelo teatro. Tocava com perfeição clarineta e violão. Incentivador de diversos grupos dramáticos amadores de arte sepeenses. Foi farmacêutico, tendo iniciando sua carreira como empregado, tornando-se mais tarde proprietário da farmácia. Publicou uma série de crônicas no extinto jornal local “A Notícia”, com o título de “ Reminiscências de São Sepé”.

O Centro Cultural Diolofau Brum é uma das homenagens que São Sepé lhe prestou, reconhecendo seu talento e o incentivo que sempre deu às artes, aos talentos e à cultura de sua terra natal.

AGÁPITO DA ROSA FRAGA

Nasceu em 24 de março de 1861. Jovem humilde, dedicou-se à agricultura, abandonando a atividade quando passou a exercer o ofício de curtidor de couros. No seu lazer, costumava ler bons livros, ressaltando seu espírito intelectual. Honesto dono de uma bagagem cultural acentuada, senso de humor e facilidade de relacionamento, passou a ser convidado para integrar organizações que começavam a se formar na então Vila. Fez parte da Banda Cecília e foi um dos fundadores da Sociedade Teatral Sepeense, revelando-se assim músico e ator talentoso.

No serviço público, iniciou-se como Oficial de Justiça, passando a Escrivão. Foi Juiz Distrital, em cujo cargo se aposentou. Foi um dos fundadores do Clube Republicano Riograndense, da Loja Maçônica Paz e Labor, da Irmandade do Divino Espírito Santo e do Clube Recreativo, além de outras agremiações.

Colaborador da imprensa local, do “Comércio”, de cachoeira do Sul, e de outros jornais gaúchos. Os temas escolhidos por Agápito sempre evidenciavam sua preocupação com o desenvolvimento e progresso de seu município e do Estado. Entre suas obras, aparece o drama “Pela liberdade da mulher”, obra que ele não deixou ser encenada, alegando possibilidade de perdas de amizades, se assim não agisse. Defensor da construção da ferrovia Santa Maria-Pelotas passando por São Sepé, projeto que volta e meia retorna às discussões de administradores públicos.

Muitas de suas reivindicações veiculadas na imprensa, tornou-se realidade algum tempo após seu desaparecimento.Faleceu em 31 de outubro de 1942.

LAURO BULCÃO

Nasceu em Lavras do Sul, em 15 março de 1912,filho de João de Araújo de Aragão Bulcão. Convocado para vir ao Sul, serve em Rio Pardo. Em sua permanência naquela cidade conhece a jovem Luiza Azemberger Luchisinger, iniciando o namoro e, em pouco tempo, casaram-se. Foram residir em Lavras do Sul, a convite de diversos Vereadores, pois naquela época não havia médicos na região. E foi ali que ele construiu sua numerosa família. Seu filho Lauro, estuda em Porto Alegre desde o ginásio até formar-se em medicina, clinica geral. Em maio de 1935, o jovem médico resolveu vir para São Sepé. Hospeda-se no Hotel Ideal, na Praça das Mercês. Em seguida aluga um consultório, próximo ao hotel, que era do doutor José Luiz Ferreira, falecido.

Em setembro daquele ano, conhece Raquel Brum. Casa-se em 18 de novembro de 1936 e passam a residir na casa de seu sogro, Nelson da Silva Brum. Tiveram quatro filhos: Amilcar, Maria Luiza, Hamilton (também médico) e Jorge Luiz. Em 1947, Lauro Bulcão foi eleito prefeito do município, com expressiva votação, governando até 1951.

Em 1949, com mais dois companheiros, funda a empresa Arrozeira Sepeense S/A, hoje, uma das maiores e mais sólidas empresas da região, apoiadora e incentivadora da cultura. Em sua curta passagem pelo município, sempre se dedicou a prestar serviços médicos. Falece em 24 de março de 1958, com 46 anos de idade. Em razão da proximidade dos fatos, muitos sepeenses ainda recordam do Dr. Bulcão – como era mais conhecido – e de sua atuação como prefeito e da presença como médico.

SEPÉ TIARAJU

Joseph Tyaraju, – conforme registro em espanhol, – ficou conhecido como Sepé Tiaraju. Nasceu, possivelmente, em torno de 1720. Sepé morreu em 7 de fevereiro de 1756, às margens da sanga da Bica, perto da atual Estação Rodoviária de São Gabriel, em combate que precedeu o massacre de Caiboaté, quando enfrentava os Portugueses e Espanhóis em defesa de sua terra.

As lendas que aumentaram os feitos de Sepé foram criadas por poetas e trovadores. Em 1769, 13 anos após sua morte, ele já fazia parte do poema “O Uraguai”, de Basílio Da Gama. Simões Lopes Neto (1865-1916), nos traz a lenda “O Lunar de Sepé” (Lenda s do Sul). Outros cronistas da história do Rio Grande do Sul ajudaram também a construir o mito. Entre eles Manoelito de Ornellas, Walter Spalding, Mansueto Bernardi, defendendo a tese de ser Sepé Tiaraju, o primeiro Caudilho Riograndense, e Tau Golin, que faz uma biografia fundamentada de Sepé.

A vida real do Cacique Guarani Sepé Tiaraju não precisaria de lenda para ser grande. Alferes real do Cabildo de São Miguel, ele foi o mais tenaz resistente à entrega dos Sete Povos das Missões aos Portugueses, embora suas ações guerreiras nem sempre fosse bem ordenadas. No início, o Cacique não tinha noção clara do que se passava. Em Santa Tecla, em 1753, ainda que ordenasse o retorno dos demarcadores das novas fronteiras, negou gado aos Portugueses e forneceu as Espanhóis, por servirem ao mesmo Rei dos Jesuítas e Guaranis. Um mês depois, Fernando IV, Rei da Espanha, ordenaria que as Reduções fossem evacuadas à força, se necessário. Quando isso começou a ser posto em prática, Sepé Tiaraju se transformou, foi ele que insuflou levante São Nicolau, a primeira Redução a resistir às ordens de transmigração para o lado ocidental do Rio Uruguai. Em São Miguel, chefiados por ele, os índios atacaram, as carretas que faziam a mudança dos objetos da igreja, obrigando-os a retornar à Redução.

Durante três anos, foi o grande líder dos revoltosos. Na ocasião de sua morte ele e seus companheiros haviam matado dois, dos 300 soldados portugueses que marchavam de Montevideu para as Missões, e foram perseguidos. Numa escaramuça, seu cavalo rodou e ele foi ferido pela lança de um soldado. Antes que se levantasse, foi morto com tiro de pistola pelo próprio governador de Montevideu, José Joaquim Viana, que chefiava a tropa. Segundo estudos dos pesquisadores, ha indícios fortes de o corpo do valente guerreiro tenha sido trazido, após sua morte, para São Sepé, mais precisamente para a Gruta do Marco. Historiadores registram que o Cacique teria pedido aos seus companheiros que o levassem para um local depois da curva do rio, onde havia alguém o esperando, o que se presume, ser seu grande amor, a índia Pulquéria. Ela teria ficado aguardando Sepé, na referida Gruta, local seguro e protegido. Baseado nesse aspecto, surge a versão que Sepé Tiaraju tenha sido enterrado, em São Sepé.

O fato citado a cima é descrito pelo depoimento do Pe. Auxiliar de São Miguel, Tadeu Henis, S.J., “quando Sepé e seus companheiros foram perseguidos pelo esquadrão do Governador J.J. Viana, seu cavalo tropeçou em um buraco, ou fossa feita por um estouro, e Sepé caiu, vindo a ser lançado por um dos soldados do esquadrão e, posteriormente morto com um tiro de pistola, efetuado pelo Governador Viana. Seus súditos, vendo-o morto e cercado a si mesmo, a força romperam pelo esquadrão do inimigo e se puseram a salvo, ficando morto um, se não me engano, e ferindo outro. Jogaram o corpo de Sepé, já desposado de tudo e, como alguns dizem o queimaram com pólvora ainda quando estava aspirando e o martirizaram de outras maneiras. Os índios enterraram o corpo de seu bom e muito arrojado capitão numa selva próxima, com os sagrados cânticos e hinos que se costumam cantar nas igrejas porém, sem sacerdote. Havendo-o buscado de noite os seus com grande dor, proporcional ao amor que lhe tinha”.